Bien Venidos



Amigos... sejam bem vindos a este singelo Blog, o qual tem por objetivo nada mais do que poder compartilhar novidades, notícias, artigos e até mesmo sentimentos com os amigos de perto e/ou com aqueles cultivados e mantidos além de onde a vista alcança.

Bueno... então sentem-se, componham um mate dos bem gordos e boa leitura.



sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Minha vida no Futebol de Mesa

Foto cortesia by Sambaquy.
Por Adauto Celso Sambaquy.

Amigo Gelson e leitores do blog El Minuano.
   Após algumas trocas e-mail's com o Gelson, estou atendendo à solicitação do blog El Minuano sobre a minha participação nesse esporte, o qual foi responsável para que o Gelson e eu viéssemos a nos conhecer nas festas do XXIX Campeonato Centro Sul, realizado em Caxias do Sul, em junho de 2011.
   Fui apresentado ao futebol de mesa um pouco antes do nascimento do seu pai, Deni Bauer, na primavera de 1947, na casa de um amigo, na cidade de Caxias do Sul. Apaixonei-me pelo futebol de botões, pois na época era jogado com botões surrupiados de ternos e sobretudos de meu avô e meu pai. Depois disso, lixados nas calçadas e preparados para nos dar alegria.
   Isso nunca mais me abandonou. Tinha na época dez anos. Logo chegou a puberdade e os botões ficaram guardados, nunca abandonados. Jogava esporadicamente, pois tinha uma mesa não oficial em minha casa. Nesse tempo surgia no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Porto Alegre, uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa, sob a presidência de Lenine Macedo de Souza. Interessei-me em conhecer as mesas, os botões, bolinhas e principalmente as regras que orientavam as disputas. Foi quando iniciei a minha carreira no Banco do Brasil, na cidade de Caxias do Sul. Uma das primeiras revistas da AABB que caiu em minhas mãos trazia a nominata da administração. Parei quando li que lá havia um Departamento de Futebol de Mesa, que era de responsabilidade de Raymundo Antonio Rotta Vasques. Quis logo conhecê-lo. Fui apresentado a ele e disse de cara: Eu também jogo botão.
   Fui admitido no departamento e logo impulsionamos aquele setor. Garotão, cheio de vontade de jogar, começamos a praticar e os adeptos foram se chegando. Logo estávamos com quase vinte praticantes. Realizamos campeonatos maravilhosos, sempre com botões puxadores, um de cada cor, o que dificultava a quem fosse admirar o novo esporte que estava sendo implantado. Na mesma época, o Banrisul também realizava seus campeonatos internos. E o presidente do Sindicato dos Bancários resolveu criar o Campeonato bancário, na sede do Sindicato. Era o ano de 1963.
   Nos anos seguintes continuamos a jogar e disputar campeonatos da AABB, bancário e citadino, mas não éramos convidados a disputar o estadual que sempre se realizava em Porto Alegre. Foi-nos explicado que deveria haver uma entidade que gerisse o futebol de botões da cidade. Foi então que fundamos a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, já no ano de 1965.
   Como eu sempre acompanhava os esportes e comprava todas as revistas que apareciam na cidade, tive a felicidade de encontrar na Revista do Esporte, que era editada no Rio e Janeiro, uma reportagem que dizia textualmente: BAHIA DÁ LIÇÕES DE FUTEBOL DE BOTÕES. Fora escrita por Oldemar Seixas e trazia seu endereço, caso alguém se interessasse em entrar em contato. Escrevi-lhe falando de nossa Federação, de nossa Liga e dizendo que duvidava que pudessem nos dar lições de futebol de botões em virtude de nossa organização.
   Para minha surpresa, alguns dias depois recebi a resposta dele, em um grande envelope, escrita em nove laudas, explicando o futebol de mesa baiano. Junto vieram três botões utilizados por lá: um do Vasco da Gama, outro do Grêmio e o terceiro do Ypiranga da Bahia. Veio também um goleiro, feito de madeira, do mesmo Ypiranga. Bolinhas “olho de peixe” e um exemplar das Regras Baianas de Futebol de Botões.
   Iniciava-se uma amizade que perdura 46 anos. Semanalmente trocávamos figurinhas sobre as novidades em cada região. Ele escrevia no Esporte Jornal uma página dedicada ao futebol de botões e inseria as novidades de Caxias do Sul. Ao completar um ano, a nossa Liga resolveu organizar um grande torneio de aniversário, que seria jogado na regra gaúcha. Para isso convidamos o pessoal da Federação e várias entidades que praticavam o futebol de mesa no nosso estado. Estendi o convite ao Oldemar, por educação, pois como seria jogado na regra gaúcha, diferente da regra baiana, dificilmente aceitariam. Que engano o meu. Não só Oldemar, mas também o Ademar Carvalho aceitaram e vieram ao sul. Só me solicitaram que conseguisse uma tábua de 2,20m x 1,60m, com laterais para os botões não caírem no chão e as metas nas medidas da regra baiana. O resto eles fariam quando chegassem. Conseguimos a tábua, pregamos as laterais e foram colocadas as traves conforme havia sido solicitado.
   Eles chegaram e puseram-se a trabalhar, lixando e depois riscando a mesa. Depois de pronta deixamos escondida.
   No dia do torneio realizado na regra gaúcha, foi que tivemos a oportunidade de observar um time padronizado enfrentando um carnaval de botões, pois cada um de nós tinha times de várias cores. Para surpresa geral, diante dos maiores nomes do futebol de mesa gaúcho, Ademar Carvalho consegue terminar o torneio em segundo lugar. Era a sua primeira experiência em uma regra muito diferente da sua, em uma mesa diminuta, com tempo de jogo diferente do seu. Chamou a atenção de todos. Depois da premiação, com todos os participantes, foi apresentada a mesa que hoje é a oficial. Todos ficaram espantados com o seu tamanho, e os dois baianos realizaram uma partida demonstração. Foi o ponto máximo do encontro. Olhos brilhavam e o então presidente da FRFM, Gilberto Ghizi me segredou que aquilo era algo que nunca esperava ver na vida. Ficara encantado.
   Foi então que o Ghizi nos encarregou da realização do Campeonato Estadual do ano de 1966. Aceitamos e promovemos um campeonato estadual, nas três categorias: infantil, juvenil e adulto, no mês de dezembro. Estiveram presentes, além do Ghizi, Paulo Borges, Sérgio Duro, Carlos Saraiva, Fausto Borges, Clair Marques, João Alberto Chiacchio. Jogaram a competição as cidades de Porto Alegre, Rio Grande, São Leopoldo, Arroio Grande, Rosário do Sul e a promotora, Caxias do Sul.
   Na noite anterior ao campeonato, foi realizada uma demonstração da nova Regra que seria sugerida no mês seguinte aos baianos, sendo aprovada por todos os presentes.
   Nesse dia, em nome da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, Paulo Borges ofertou um pin de ouro, representando o Botão de Ouro para mim. Era a terceira homenagem desse tipo, uma vez que os dois baianos haviam recebido o primeiro e o segundo pin.
   Marcamos um encontro, dessa vez na Bahia, para janeiro de 1967. Haveríamos de chegar a um denominador comum.
   Viajamos de ônibus, Ghizi de Porto Alegre, e eu apanhando o ônibus em Caxias, até Salvador. Lá ficamos durante mais de três semanas discutindo, analisando, ponderando, até que se chegou à Regra que deveria denominar-se Brasileira, pois reunia a essência da Baiana com a Gaúcha. Uma coisa que os baianos ponderaram foi no tamanho da mesa, pois todo o nordeste já jogava com mesas de 2,20 x 1,60 e nós teríamos de construir as nossas, pois as da regra gaúcha eram menores. Finalmente acabamos por concordar e em dois dias estávamos com exemplares da regra criada, trazendo para o sul do Brasil, devidamente assinada pelos seis componentes da comissão original da Regra: Ademar Carvalho, Oldemar Seixas, Roberto Dartanhã, Nelson Carvalho, baianos e Gilberto Ghizi e Adauto Celso Sambaquy, gaúchos.
   Caxias do Sul aderiu imediatamente e começamos a construir mesas, semelhantes a que já possuíamos. Times haviam sido comprados das mãos dos baianos quando de sua visita.
Porto Alegre insurgiu-se por motivos comerciais da parte do Lenine que era o fabricante das mesas, botões, bolinhas, metas e goleiros. Sua primeira providência foi destituir Ghizi da presidência da FRFM e iniciou uma guerra contra Caxias.

1º Camp. Brasileiro - Vitória (ES) Sambaquy 1 x 1 José Inácio
   Continuamos o movimento levando a Regra Brasileira aos mais distantes locais. E conseguimos êxito na maioria das cidades onde estivemos. Enquanto isso os baianos preparavam o primeiro campeonato brasileiro da modalidade. Ele foi realizado no ano de 1970, na Sociedade Espanhola, em Salvador. Caxias representou o Rio Grande do Sul e conseguimos um quarto lugar no individual e por equipes também. No ano seguinte o segundo campeonato foi em Recife. Depois realizamos em Caxias do Sul o terceiro campeonato.
   Por muitos anos houve mal entendidos entre os praticantes da regra gaúcha e o pessoal que jogava a regra brasileira. Hoje já não existe mais, pois muitos são os que praticam as duas modalidades. A intenção da criação da Regra Brasileira foi à união entre os diversos estados brasileiros no sentido de nosso esporte deixar de ser um esporte de garagem, de porão, de rua, de regras diferentes, para se tornar um esporte popular e ser disputado com campeonatos que reunissem brasileiros dos mais diversos locais, jogando todos sob a mesma orientação.
   Em 1973 fui transferido, a pedido, para a agência do Banco do Brasil, na cidade de Brusque (SC). Os botões vieram comigo, mas aqui não existia futebol de mesa. Um dia, pelo correio, recebo uma medalha vinda da Liga Brasil de Futebol de Mesa, da Bahia, como sendo um dos dez mais destacados botonistas do ano. Ao ver a medalha, alguns companheiros de futsal olharam a inscrição e leram a mensagem. Começaram a aparecer os que já haviam jogado futebol de mesa. Pouco depois fundávamos a Associação Brusquense de Futebol de Mesa.
   Essa entidade, com o apoio de vários caxienses como Marcos Zeni (que mandou a primeira mesa oficial para lá), Luiz Ernesto Pizzamiglio, Airton Dalla Rosa, Nelson Prezzi e Adaljano Tadeu Cruz Barreto, começamos um movimento que culminou com a construção de uma sede própria na cidade. Talvez seja a única entidade que possuía uma sede sua. Infelizmente depois de algum tempo e devido a minha parada a entidade enfraqueceu e está desativada. Durante a nossa atividade profícua realizamos o primeiro Centro Sul, na época chamado de Sul Brasileiro, em 1979 e em 1981 o sétimo Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa.
   Mas, nos anos oitenta, quando assumi a presidência da Associação Brasileira de Futebol de Mesa fiz a aproximação com o pessoal da regra de 12 toques (paulista) e 3 toques (cariocas e brasilienses). Unidos conseguimos motivar aos que nos sucederam a lutar para a regularização de nosso esporte, uma vez que anteriormente era considerado apenas como diversão. Hoje o CND regularizou o esporte e foi criada a Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, que sucedeu a Associação Brasileira que era a entidade que administrava a Regra Brasileira.
   Nessa longa jornada dentro do futebol de mesa convivi com pessoas extraordinárias que me ensinaram muitas lições de vida. Destacar nominalmente é quase impossível. Na minha cidade todos os que comigo conviveram são recordados com carinho. Muitos no plano espiritual, outros ainda por aqui, e poucos ainda continuando no esporte. Fora dela, são tantas as amizades que declinar nomes seria uma temeridade. Entretanto eu ousaria citar alguns nomes, os quais já não estão entre nós, mas marcaram a minha vida, por seus exemplos e tenacidade. Começaria citando Ademar Dias de Carvalho, um baiano que muito enobreceu o esporte e foi um dos baluartes na criação da Regra Brasileira. Ele e Nelson Carvalho foram incansáveis e souberam compreender todas as modificações que impusemos à antiga Regra baiana. Webber Seixas foi talvez o maior botonista que eu vi em ação. Um tremendo brincalhão que deixou saudade em todos os cantos do país. José de Souza Pinto, o presidente perpétuo da Liga Baiana de Futebol de Botões. Não jogava, mas de terno e gravata estava sempre pronto para presidir qualquer solenidade, com o garbo que possuía. Foi inesquecível. Era sogro do Nelson Carvalho. De Curitiba o Agacyr José Eggers, tremendo batalhador, um coração bondoso. De São Paulo a figura gigantesca de Geraldo Cardoso Décourt, aquele que em 1930 escreveu o primeiro livro de regras do futebol de mesa. Tive a honra de privar de sua amizade e em seu livro Aconteceu, sim!..., participei a seu pedido escrevendo uma crônica reproduzida às páginas 139/140. Décourt era dessas pessoas incomuns: artista de cinema nacional atuou em novelas, músico, artista plástico, modelo profissional fotográfico e, sobretudo um botonista. Além dele, outra figura que marcou muito a minha vida foi Antonio Maria Della Torre, o presidente que reergueu a Federação Paulista de Futebol de Mesa, dando a conotação atual de grande entidade. Foi através do esforço dele, agregado ao pessoal de Brasília, Rio e da Associação Brasileira de Futebol de Mesa que conseguimos a regularização de nosso esporte junto ao CND. Do Rio de Janeiro a figura maravilhosa de Getúlio Reis de Faria, um dos seguidores de Décourt desde os anos 30. Getúlio morava em Vila Isabel e em sua casa joguei muitas partidas de futebol de mesa. Hoje, todos eles formam o grande time de botonistas que nos aguardam no céu.
   Não citei nomes de pessoas vivas para não cometer nenhuma injustiça, na possibilidade de esquecer alguém. O futebol de mesa enriqueceu a minha vida. Talvez escreva uma obra com um pouco daquilo que guardei em minhas anotações e deixe isso para as futuras gerações de botonistas.
   O amigo Gelson solicitou que eu enumerasse algumas das conquistas que consegui nesses mais de sessenta anos de botonismo. Infelizmente não posso enumerar nenhuma delas olhando para a galeria que tenho, pois as maiores conquistas que obtive em minha vida estão todas depositadas em meu coração: são os amigos que iluminam a minha vida, com seu carinho, suas risadas, suas emoções, suas tristezas, suas alegrias, seu afeto. São os abraços que recebo quando os encontro e que mostram a grande vitória que tive na vida em tê-los encontrado. São os meus irmãos que nasceram em outros lares, mas que se irmanaram comigo na luta em prol do esporte que escolhemos amar para sempre. Nem todos são botonistas, a seu exemplo, mas o valor é sempre o mesmo. Amigos são as maiores conquistas que consegui em minha vida.
   Espero não ter escrito demais e que isso possa motivar mais pessoas a jogar botão, ou melhor, futebol de mesa.

Um abraço a todos os leitores.

5 comentários:

  1. Que maravilha, que prova de amor pelo esporte.

    Nào me canso de dizer, PARABÉNS e MUITO OBRIGADO SAMBAQUY por tudo que fizeste pelo nosso esporte.

    Abraços !

    ResponderExcluir
  2. Esse é meu Papai Samba!
    Abraço e Boas Festas a todos!
    Maciel

    ResponderExcluir
  3. Já conheço parte desta história, mas a cada fez que vejo quando este grande coração que é um incansável visionário de nosso esporte falar sobre ela me emociono e disso tiro a força necessária para hoje, juntamente com a Família AFM Caxias a qual nasci e aprendi a amar estas cores, seguir com este sonho lá atras plantado. Amigos é por esta e outras coisas q não canso de elogiar e de dizer que se depender de mim aquilo que ele plantou e cativou, ao lado de seus inúmeros amigos que aqui no texto ele cita, nunca mais morrerá. Farei de tudo para que possamos em alguns anos estarmos contando a nossos futuros herdeiros a honra de ter participado deste esporte magnifico que é o Futebol de Botão. Abraço a todos principalmente a você Sambaquy que é um pouco pai de todos nós. vc sabe do carinho que a Familia Prezzi tens por ti e que passa de geração a geração e certamente meus filhos saberão quem é esta pessoa maravilhosa que é você e sua importância em nossas vidas.
    Abraços Rogério Prezzi

    ResponderExcluir
  4. Quero me associar nessa bela homenagem que o Gelson presta a essa figura maravilhosa, baluarte do futebol de mesa. Em todos os recantos aonde se ergue uma bandeira farrapa tem que estar presente a história desse homem que lutou bravamente - como nossos antepassados lutaram - para fazer temular essa chama. O futebol de mesa gaúcho que joga na regra brasileira é obra desse abnegado esportista. Um abraço Sambaquy!

    Guido

    ResponderExcluir
  5. Amigo Gelson,
    Agradecer ao Robson, ao filhão Maciel, ao afilhado Rogério e ao ícone Guido é o mínimo que posso fazer pela consideração que demonstram sempre para comigo. Devo dizer que se fiz alguma coisa, o fiz por amor, pois era o sonho que tive ao conhecer o futebol de mesa. Imaginar, nos anos cinquenta, um campeonato brasileiro era o mesmo que dizer que o homem iria a Lua. as duas coisas aconteceram e foram frutos do esforço de muitos abnegados. Graças a Deus eu tive amigos que pensavam e sonhavam da mesma maneira. E assim ficou fácil conseguir. E se tudo isso evoluiu foi graças aos esforços de pessoas como Robson, Maciel, Rogério e Guido, que não descansam e fazem a roda girar.
    Obrigado amigo Gelson por ter aberto as portas de seu blog para divulgar o meu sonho.
    Um grande abraço e votos que 2012 seja o grande ano de sua vida, junto aos seus.

    ResponderExcluir